A PEDAGOGIA DA ALTERIDADE




A PEDAGOGIA DA ALTERIDADE

Por: Jorge Schemes

Cada vez mais o individualismo selvagem e até mesmo cruel se impõe como filosofia de vida no cotidiano de milhares de crianças e jovens. A indiferença pelas necessidades do outro e a banalização da vida humana são considerados princípios de autopreservação e sobrevivência. E essa idéia é reforçada diariamente pela mídia. A criminalidade em todas as suas esferas nos transmite uma sensação de impotência e nos deixa perplexos. E as perspectivas atuais em relação a delinqüência infanto-juvenil são no mínimo alarmantes. As leis do anti-humanismo contemporâneo acabam sendo adotadas como regras de conduta, onde os fins justificam os meios. Os modelos (paradigmas) morais não são permanentes, antes são fúteis, fracos e passageiros, deixando uma lacuna ética e moral na cosmovisão social. Vivemos no século do descartável, do obsoleto, da vulnerabilidade de mercados, e, como conseqüência, da vulnerabilidade do humano, que acaba sendo avaliado no contexto neoliberal como meio e não como fim em si mesmo.
Certamente que este cenário de crise moral, ética e espiritual que se manifesta na sociedade pós-moderna acaba tendo repercussão dentro da escola. Devemos considerar que o sistema do processo educacional está inserido dentro de um sistema maior, e que os problemas morais e éticos manifestados dentro das escolas enquanto instituições são na realidade reflexos do que está ocorrendo em seu entorno. Todavia, o comprometimento ético com a educação deveria lançar um “olhar caleidoscópico” dos educadores sobre a infância e a juventude. Contemplar a diversidade e as diferenças presentes em sala de aula é o primeiro passo para desmantelar a concepção metafísica de ser humano formatada por séculos dentro do modelo tradicional de ensino. Neste caso, trata-se de uma concepção uniforme, pré-moldada e limitada. A concepção metafísica de ser humano com seu olhar telescópico só poderia servir aos interesses daqueles que visavam a exclusão, pois é uma idéia excludente que não contempla os “incapazes”. Devemos considerar que nossa concepção de ser humano afeta diretamente a nossa concepção de sociedade e educação. Que “tipo” (grego: tupos = marca ou imagem deixada sobre algo) de ser humano queremos formar? Para qual sociedade? Com que educação?
Pensar no ser humano numa perspectiva histórico-social, de construção e reconstrução constante dentro de um processo dialético e dialógico, nos possibilita contemplar “as infâncias e as juventudes” manifestadas diante de nós. Esse olhar caleidoscópico propicia uma visão da diversidade presente dentro da escola. Ao mudar o foco de nosso olhar sobre o humano manifestado no ser, perceberemos a necessidade de uma ética que contemple o outro como manifestação humana. O “totalmente outro” que se manifesta como é, e é recebido e acolhido como tal, sem preconceitos ou discriminação. Por este viés, faz-se necessário uma reflexão profunda sobre o pensamento teórico e as práticas pedagógicas. Por este caminho a pedagogia precisa ser repensada como uma pedagogia da alteridade. Ao contemplar as diferenças e propiciar o diálogo e a reverência pelo outro que se manifesta no rosto, a pedagogia da alteridade precisará de uma ética pertinente, ou seja, a ética da alteridade. Não se trata de um discurso vazio e palavras estéticas, mas de atitudes morais realizadas na concretude do ser que está erigido em corpo físico e manifestado no rosto do outro. Ou seja, ações de solidariedade, respeito, zelo e justiça que tenham como alvo o diferente, o excluído, o criminoso, o violento, o rebelde, o indisciplinado, enfim, o totalmente outro manifestado diante de mim por meio de seu rosto humano. É no rosto e por meio dele que o humano se manifesta no ser. O rosto nos remete a uma necessidade ética universal. Essa necessidade ética universal pode ser construída como uma filosofia primeira, antes mesmo da ontologia, ou seja: como ética da alteridade. Nesta fundamentação ética é que será possível uma pedagogia mais humana, justa e solidária, ou seja, a pedagogia da alteridade.

*Jorge Schemes
Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas – Grego e Hebraico.
Licenciado em Pedagogia com Habilitação em Séries Inicias e Administração Escolar.
Licenciado em Ciências da Religião.
Pós-Graduado em Interdisciplinaridade e Metodologia do Ensino Superior.
Pós-Graduado em Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Professor de Filosofia da Educação na FEJ – ACE.
Técnico Pedagógico na GEECT - Gerência da Educação, Ciência e Tecnologia.

A PEDAGOGIA DO TERROR


A violência Oculta da Pedagogia Perversa
Por: Gilda Lück

As coisas mais importantes não se aprendem nos livros, nas aulas, em conferências, nem em sermões. São transmitidas de pessoas para pessoas por padrões de atitudes e procedimentos. Tratam-se das influências que nós, pais e professores passamos para os nossos filhos e alunos inconscientemente, com gestos, expressões e exemplos de como interpretamos e vivemos nossas vidas. Palavras nem sempre retratam o que pensamos ou o como agimos, porém nossos atos sim. Temos a tendência de agir dentro de um conceito de repetição. Se fui educada assim, vou educar do mesmo jeito. O fenômeno da violência não está imune a esse modelo de situação, tanto na família como na escola. Requer um estudo profundo das suas causas pessoais, familiares e ambientais, para evitar a manifestação de procedimentos violentos. Porém, antes de tudo devemos nos perguntar, o que é violência hoje? Será que ela tem outras características que não tinha no passado? Será que só existe de nossa porta para fora? Ou apenas é representada em forma de agressão física, como o ato de jogar uma criança em um capô de carro? Pode ser que antes de chegar a fatos como esses, já tenha havido uma seqüência de atitudes violentas tão imperceptíveis que acabaram absorvidas de forma corriqueira. Podemos considerar violência também a verbal, aquela que através das palavras recheadas de sentimentos perversos como a ironia, a inveja, a cobiça e muitos outros, agride e machuca tanto quanto uma agressão física. E aquela violência silenciosa do descaso, da segregação, do preconceito às vezes demonstrada com um simples gesto ou expressão qualquer que mostra claramente uma atitude, um procedimento de ódio, incompreensão, desamor. São esses simples olhares que denotam o quanto você não é bem-vindo ou “você me incomoda”. Quantas pessoas são vítimas da violência silenciosa que as faz sentir vontade de se desculparem pelo simples fato de viverem? Faz parte da formação profissional do professor estar preparado para atender às necessidades emocionais dos seres humanos e lhes ajudar a desenvolver a vontade educada nos valores como a paz, a vida, o respeito, a tolerância e a solidariedade. Ensinados com naturalidade o que vivenciamos, e um bom caminho a seguir é explorado pela legislação atual. Os temas transversais reforçam os projetos pedagógicos das escolas como proposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de uma forma bastante profunda. Abordando a ética e a pluralidade cultural, eles introduzem, dimensões que anteriormente eram de exclusiva iniciativa de poucos professores, como a cidadania, que estabelece uma relação com a experiência de vida. A inexistência dessas práticas dá lugar ao individualismo, à lei do mais forte, à necessidade de se levar vantagem em tudo, e daí a brutalidade e a intolerância. A violência perpassa as diferentes relações sociais e aparece de forma explícita nos meios de comunicação de massa, principalmente na mídia televisiva, que comumente apresenta programas com “brincadeiras” desrespeitosas em que os indivíduos são usados como objeto sarcástico. Até os programas infantis não fogem a essa conotação violenta. Bondade, generosidade e ética parecem que estão fora de moda. Os filhos vêem e sentem isso na atitude dos pais. Os alunos percebem e observam essas atitudes e procedimentos nos professores. Muitos consideram as maiores qualidades de um professor (gestor de talentos, processos de conhecimento) como uma fraqueza. A bondade, a generosidade e a humildade fazem parte do caráter daqueles que fazem educação e não só flu-flu, perfumaria e maquiagem para enganar a quem realmente não sabe o que significa a profissão de educador.

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