ESPIRITUALIDADE ECUMÊNICA
Por: Jorge Schemes
Ecumenismo é um movimento com força centrífuga e ao mesmo tempo centrípeta. Força centrífuga identifica os aspectos de convergência, enquanto que a força centrípeta caracteriza os pontos de divergência dentro do universo da pluralidade cultural e religiosa existente. Considerando as diferentes matrizes religiosas (africana/indígena/judaico-cristã e orientais), mergulhamos no universo da diversidade religiosa (o que exigirá um diálogo inter-religioso); quando penetramos no mundo cristão, encontramos pontos de convergência entre as diferentes denominações, porém, o grande desafio são os pontos de divergência, ou, os obstáculos para a unidade cristã. O ecumenismo propõe uma aproximação dos pontos convergentes e dos pontos divergentes, e ao mesmo tempo um afastamento da visão estereotipada e preconceituosa do diferente. Apesar do ecumenismo propor uma unidade cristã, não defende a idéia de uniformidade; porém, o saber ouvir, o saber entender e compreender fenomenologicamente as razões e os porquês das diferenças entre cristãos e dos pontos de desafio para uma compreensão e vivência em unidade entre as diferentes denominações cristãs. A possibilidade de abertura proposta pelo ecumenismo não pode relegar a unidade cristã a uma acomodação aos padrões e interesses de um determinado segmento ou grupo religioso.
Concordar ou apoiar a unidade entre os cristãos não exclui a possibilidade da divergência. Sempre, o direito à liberdade religiosa deve nortear os caminhos do ecumenismo, para que ele seja um movimento livre de toda discriminação e um elemento de convergência e aproximação entre os cristãos e não se transforme num instrumento de opressão ou tirania contra aqueles que não se conformam nos pontos de convergência. O espaço oferecido pelo movimento ecumênico deve propiciar a inclusão sem a exclusão do diferente ou divergente. O ecumenismo necessita ser democrático e libertador para servir como um caminho para o diálogo e o respeito pelas minorias ou maiorias discordantes (forças centrípetas). Assim, o ecumenismo deve estar ele mesmo aberto à crítica quando necessário, e mesmo a uma reformulação se for preciso. Os pontos de divergência precisam ser reconhecidos, entendidos e levados em consideração com respeito mútuo, mesmo que não tragam contentamento ou consenso no meio ecumênico. Como meio ecumênico devemos entender as igrejas que já têm em seu corpo de doutrinas pontos de convergência e, consequentemente, mais facilidade de aproximação e unidade. Creio que é possível haver unidade, do ponto de vista humano, do ponto de vista de valores e ética universal, mesmo quando há divergências e forças centrípetas entre cristãos. Como seres humanos, baseados no respeito à dignidade e direitos humanos, e não apenas em base no corpo doutrinário. Seres humanos religiosos, não são a mesma coisa que dogmas e doutrinas (verdades eternas e cristalizadas), seres humanos são únicos, devem estar unidos, enquanto que verdades doutrinárias e denominacionais são direitos garantidos pelo direito à liberdade religiosa. Creio que o ecumenismo tem a sua importância, todavia jamais pode estar a serviço da massificação ou uniformidade das diferentes verdades proclamadas, ou seja, o ecumenismo deve cuidar para manter a liberdade e jamais ser usado como pretexto de uniformidade, e muito menos causar opressão aos divergentes ou àqueles que jamais poderão violar os pontos de divergência. Por outro lado, o ecumenismo pode promover uma espiritualidade para a tolerância e a alteridade, ensinando a ver, ouvir e respeitar o que é diferente no outro.
Para tanto, alguns elementos para uma espiritualidade ecumênica são necessários. Unidade é muito mais que ações ecumênicas, ela precisa ser entendida primeiramente como um Dom. Em sua oração sacerdotal (Cf. S, João 15), Jesus pediu pela unidade de seus seguidores. É por meio de uma atitude e um estado de oração que a unidade espiritual deve ser buscada, pois é algo que parte de dentro para fora e não o contrário. A fonte da espiritualidade ecumênica é a trindade (S. João 17:20-23), tendo Cristo como o centro das ações (cristocentrismo inclusivo). A inspiração do Dom da unidade é obra do Espírito Santo, assim, unidade é um chamado à santidade. Logo, ecumenismo é um princípio espiritual. A espiritualidade é a dimensão interna do ecumenismo. Unidade é um ato de conversão interior movida pelo Espírito Santo. É preciso esvaziar-se da discórdia interior, criar um espaço acolhedor dentro de si mesmo capaz de ver, ouvir e entender o outro. Ecumenismo é um ato de sacrifício que envolve sentimentos e modos de ver a vida com humildade, bondade, suportando uns aos outros em amor, objetivando a unidade no espírito e no vínculo da igreja (Cf. Efésios 4:1 a 3). Desta maneira podemos dizer que espiritualidade ecumênica é mais ser do que fazer, pois é manifestada em proclamação (kerigma), comunhão (koinonia), martírio (martyria), serviço (diaconia) e principalmente em amor altruísta (ágape).
Jorge Schemes
Professor de Filosofia da Educação - ACE - Joinville, SC
jorgeschemes@yahoo.com.br
Por: Jorge Schemes
Ecumenismo é um movimento com força centrífuga e ao mesmo tempo centrípeta. Força centrífuga identifica os aspectos de convergência, enquanto que a força centrípeta caracteriza os pontos de divergência dentro do universo da pluralidade cultural e religiosa existente. Considerando as diferentes matrizes religiosas (africana/indígena/judaico-cristã e orientais), mergulhamos no universo da diversidade religiosa (o que exigirá um diálogo inter-religioso); quando penetramos no mundo cristão, encontramos pontos de convergência entre as diferentes denominações, porém, o grande desafio são os pontos de divergência, ou, os obstáculos para a unidade cristã. O ecumenismo propõe uma aproximação dos pontos convergentes e dos pontos divergentes, e ao mesmo tempo um afastamento da visão estereotipada e preconceituosa do diferente. Apesar do ecumenismo propor uma unidade cristã, não defende a idéia de uniformidade; porém, o saber ouvir, o saber entender e compreender fenomenologicamente as razões e os porquês das diferenças entre cristãos e dos pontos de desafio para uma compreensão e vivência em unidade entre as diferentes denominações cristãs. A possibilidade de abertura proposta pelo ecumenismo não pode relegar a unidade cristã a uma acomodação aos padrões e interesses de um determinado segmento ou grupo religioso.
Concordar ou apoiar a unidade entre os cristãos não exclui a possibilidade da divergência. Sempre, o direito à liberdade religiosa deve nortear os caminhos do ecumenismo, para que ele seja um movimento livre de toda discriminação e um elemento de convergência e aproximação entre os cristãos e não se transforme num instrumento de opressão ou tirania contra aqueles que não se conformam nos pontos de convergência. O espaço oferecido pelo movimento ecumênico deve propiciar a inclusão sem a exclusão do diferente ou divergente. O ecumenismo necessita ser democrático e libertador para servir como um caminho para o diálogo e o respeito pelas minorias ou maiorias discordantes (forças centrípetas). Assim, o ecumenismo deve estar ele mesmo aberto à crítica quando necessário, e mesmo a uma reformulação se for preciso. Os pontos de divergência precisam ser reconhecidos, entendidos e levados em consideração com respeito mútuo, mesmo que não tragam contentamento ou consenso no meio ecumênico. Como meio ecumênico devemos entender as igrejas que já têm em seu corpo de doutrinas pontos de convergência e, consequentemente, mais facilidade de aproximação e unidade. Creio que é possível haver unidade, do ponto de vista humano, do ponto de vista de valores e ética universal, mesmo quando há divergências e forças centrípetas entre cristãos. Como seres humanos, baseados no respeito à dignidade e direitos humanos, e não apenas em base no corpo doutrinário. Seres humanos religiosos, não são a mesma coisa que dogmas e doutrinas (verdades eternas e cristalizadas), seres humanos são únicos, devem estar unidos, enquanto que verdades doutrinárias e denominacionais são direitos garantidos pelo direito à liberdade religiosa. Creio que o ecumenismo tem a sua importância, todavia jamais pode estar a serviço da massificação ou uniformidade das diferentes verdades proclamadas, ou seja, o ecumenismo deve cuidar para manter a liberdade e jamais ser usado como pretexto de uniformidade, e muito menos causar opressão aos divergentes ou àqueles que jamais poderão violar os pontos de divergência. Por outro lado, o ecumenismo pode promover uma espiritualidade para a tolerância e a alteridade, ensinando a ver, ouvir e respeitar o que é diferente no outro.
Para tanto, alguns elementos para uma espiritualidade ecumênica são necessários. Unidade é muito mais que ações ecumênicas, ela precisa ser entendida primeiramente como um Dom. Em sua oração sacerdotal (Cf. S, João 15), Jesus pediu pela unidade de seus seguidores. É por meio de uma atitude e um estado de oração que a unidade espiritual deve ser buscada, pois é algo que parte de dentro para fora e não o contrário. A fonte da espiritualidade ecumênica é a trindade (S. João 17:20-23), tendo Cristo como o centro das ações (cristocentrismo inclusivo). A inspiração do Dom da unidade é obra do Espírito Santo, assim, unidade é um chamado à santidade. Logo, ecumenismo é um princípio espiritual. A espiritualidade é a dimensão interna do ecumenismo. Unidade é um ato de conversão interior movida pelo Espírito Santo. É preciso esvaziar-se da discórdia interior, criar um espaço acolhedor dentro de si mesmo capaz de ver, ouvir e entender o outro. Ecumenismo é um ato de sacrifício que envolve sentimentos e modos de ver a vida com humildade, bondade, suportando uns aos outros em amor, objetivando a unidade no espírito e no vínculo da igreja (Cf. Efésios 4:1 a 3). Desta maneira podemos dizer que espiritualidade ecumênica é mais ser do que fazer, pois é manifestada em proclamação (kerigma), comunhão (koinonia), martírio (martyria), serviço (diaconia) e principalmente em amor altruísta (ágape).
Jorge Schemes
Professor de Filosofia da Educação - ACE - Joinville, SC
jorgeschemes@yahoo.com.br
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