O fenômeno religioso é algo muito sério e delicado, afetando a sociedade direta ou indiretamente. Por essa razão o compromisso ético dos meios de comunicação de massa, e da mídia como um todo é fundamental para que todas as manifestações de fé sejam devidamente compreendidas, para que possam ser respeitadas. Por meio de um conhecimento destituído de pré-conceitos é possível compreender melhor o outro, suas razões, modo de pensar, acreditar e agir. O grande desafio entre o Ocidente cristão e o Oriente islâmico é manter suas próprias convicções de fé sem ultrajar ou ridicularizar as do outro. Este é um dos princípios da ética da alteridade. O acolhimento do rosto do outro (do diferente) como manifestação ética e como o limite moral de nossas ações pode ser um dos caminhos para o diálogo e a reverência entre as diversas matrizes religiosas. Todavia, o concurso de charges sobre o profeta Maomé, realizado em setembro de 2005 por um jornal da Dinamarca e posteriormente por um jornal francês contendo desenhos com a cara e o corpo do profeta e do próprio Deus (Alá, para os muçulmanos), foram considerados ofensivos pelos milhões de fiéis islâmicos espalhados pelo planeta, mas por quê? Porque a fé islâmica não permite este tipo de representação, pois é uma blasfêmia. Como resultado estamos presenciando atônitos, em pleno século XXI, as manifestações de violência, revolta e indignação que invadiram os países islâmicos, onde até mesmo crianças saíram às ruas para protestar contra a falta de respeito pelo sagrado em sua religião. O terrorismo, que não pode ser classificado como islamismo, se alimenta deste ódio contra o ocidente. Penso que este tipo de “liberdade de expressão” não é pautado pela ética e nem ao menos pelo bom senso. Os meios de comunicação de massa e seus responsáveis devem levar em consideração as diferenças e a diversidade que há na moral e nas crenças profundas do cristianismo, islamismo e judaísmo, e que tais religiões são norteadas por universos distintos e incluem cosmovisões diferentes. O que pensariam e como reagiriam os cristãos se fossem publicadas charges sobre Jesus, a virgem Maria, o Papa, a Santíssima Trindade e outros dogmas da fé cristã? Não faz muito tempo um pastor evangélico chutou a imagem da santa virgem Maria na televisão e isso foi suficiente para causar protestos e indignação por parte dos fiéis católicos romanos. O sagrado é algo que mexe diretamente com os mais profundos sentimentos de fé daqueles que o adotam, por isso, o bem senso deve predominar na chamada liberdade de imprensa. Uma reflexão sobre o que é a liberdade e se há liberdade absoluta pode ajudar neste caso. Vale refletir que a própria liberdade tem seus limites éticos e morais, pois está pautada em direitos e deveres, os quais se fundamentam em algum código de ética que rege a conduta. Para piorar a situação, muçulmanos do Irã revidaram anunciando um concurso pelo jornal Hamshahri de Teerã, cujo tema são caricaturas sobre o holocausto judaico ocorrido durante o Regime Nazista de Hitler. Isso vai acabar gerando uma bola de neve de intolerância e preconceito, pois o holocausto representa algo repugnante à nação de Israel. Certamente este não é o caminho para a construção de um mundo de paz, onde todas as crenças possam conviver mantendo o diálogo e a reverência como fundamentos da liberdade religiosa. O que pode ser feito para reverter, ou ao menos amenizar os conflitos, é o reconhecimento do grave erro cometido por meio de um humilde pedido de desculpas, e tudo isso em nome da liberdade de expressão pautada pela ética e responsabilidade moral.
Jorge Schemes - Licenciado em Ciências da Religião pela FURB
Nenhum comentário:
Postar um comentário