TABAGISMO E PREVENÇÃO
Por: Jorge Schemes*
De maneira geral o uso das substâncias psicoativas (SPA’s), que são identificadas popularmente como drogas, se propaga em todos os continentes e a dependência destas compromete a vida de cerca de 10% da população mundial. Estima-se, assim, que no início do século XXI mais de 600 milhões de pessoas sofrerão as conseqüências “desta doença”. Há as drogas ilegais como a maconha e a cocaína, mas também há drogas consideradas legais pela sociedade, como o álcool e o cigarro. Todos os seres humanos, querendo ou não, sem nenhuma exceção, estão sujeitos ao uso de drogas e, conseqüentemente, passíveis de se tornarem dependentes. Desta maneira, o problema das drogas está na casa do desconhecido, do amigo, do parente, do vizinho, dentro de empresas, e o que é mais grave, na porta de escolas e mesmo dentro delas. Uma Pesquisa domiciliar feita pelo CEBRID em cidades com mais de 200 mil habitantes entrevistou 8.589 pessoas entre 12 anos e 65 anos de idade, revelou a realidade do uso de SPA’s entre os habitantes da região sul nos seguintes números:
Fizeram uso na vida de qualquer droga, exceto álcool e tabaco – 17,1%.
A dependência de tabaco foi a maior do país – 12,8%.
A dependência de maconha foi a maior do Brasil – 1,6%.
O uso na vida de maconha – 8,4%.
O uso na vida de cocaína foi o maior do Brasil – 3,6%.
O uso na vida de orexígenos foi o menor do Brasil – 1,0%.
Comparando algumas substâncias psicoativas, podemos constatar que a nicotina se destaca por ser de fácil acesso, apresentar um alto índice de dependência e letalidade, bem como precocidade em seu primeiro uso, ou seja, atinge crianças e adolescentes. Considerando que o uso de tabaco se destaca pelo seu alto índice percentual, e sendo que a realidade destes fatos apresenta índices cada vez mais alarmantes, faz-se necessário um projeto permanente de prevenção e apoio ao fumante (usuários do tabaco). Também não podemos deixar de pensar nos aspectos legais envolvendo o uso do tabaco dentro de escolas públicas e privadas, segundo a legislação vigente sobre o assunto a nível nacional e estadual. No dia 29 de agosto comemora-se o “Dia Nacional de Combate ao Fumo”, o que nos leva a refletir o que diz a Constituição Federal de 1988 no artigo 196, a qual garante: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação”. O Ministério da Saúde trabalha na perspectiva da redução Primária de Danos a qual traz como pressuposto que não basta dizer não use ou não faça, pois é evidente que os jovens iniciam cada vez mais cedo o uso de substâncias psicoativas e que as drogas estão por toda parte, portanto negá-las é trabalhar numa vertente perigosa que não evita o uso e acaba mascarando sua triste realidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é viver sem drogas, inclusive a nicotina. Se usar, evitar as injetáveis. Se usar injetáveis, não compartilhar seringas. Portanto, no caso de dependência, as pessoas encontram-se sob uma situação de risco adicional, o que justifica o trabalho de redução de danos, no que diz respeito ao tabagismo, a sua prevenção e apoio ao fumante. É importante ressaltar que a escola como um segmento de grande abrangência social, deve priorizar e intensificar seus trabalhos preventivos, considerando que a grande maioria dos alunos ainda não usou ou não usa estas substâncias, mas que se algum vier a usar, mereça uma abordagem baseada no respeito humano e na cidadania. È fundamental que a escola não discrimine o aluno usuário, mas que o respeite e oportunize as condições de procurar ajuda e recuperação, convivendo dignamente no ambiente escolar. Assim, a implantação e implementação de um projeto de educação preventivo às substâncias psicoativas são uma necessidade, principalmente para as escolas que objetivam desenvolver uma educação para sujeitos deste tempo histórico promovendo sua excelência intelectual e moral.
Em relação às empresas, no que diz respeito ao tabagismo, o confinamento nos “fumódromos” foi a primeira atitude severa contra o cigarro no ambiente de trabalho para evitar atritos entre fumantes e não-fumantes. Mas a ofensiva não parou por aí. O tabagismo já está queimando o filme de candidatos na disputa por uma vaga. A consultoria Manager fez recentemente uma enquête com 500 executivos e 11% afirmaram categoricamente que não contratariam fumantes. Muitas empresas também adotam a norma de que em caso de igualdade entre dos candidatos, a opção é por quem não tem o vício. Os argumentos são bastante práticos: as tragadas roubam tempo de trabalho (duas horas por dia nos casos mais graves), e aumentam o absenteísmo (fumantes ficam gripados com maior freqüência e faltam mais ao trabalho). Diante desse quadro, fica evidente a relação custo benefício para as empresas quando o assunto é investir na saúde de seus funcionários. Estas são apenas algumas das muitas justificativas para a implementação de uma política de prevenção e redução de danos na sociedade como um todo.
*Jorge Schemes - Professor, Escritor e Palestrante – Autor do Livro: “O que você precisa saber e fazer para deixar de fumar”.
Obs: Este artigo foi publicado no Jornal A Notícia de Joinville, SC, no dia 29 de agosto de 2005 no caderno "Opinião". www.an.com.br
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